Apaixonado por cozinha e por fotografia, Angelo é o nome por trás do projeto Cozinha Dal Bó. Na história a seguir, ele nos conta sobre o prazer de preparar um delicioso almoço na companhia da família. Inspiração de sobra para o dia dos pais.
Meus pais têm um pequeno sítio no interior da serra gaúcha. Sempre que faço uma visita acabo passando algum tempo por lá, normalmente durante um típico churrasco de domingo.
Em algumas dessas visitas gosto de cozinhar, aproveitando os ingredientes de lá para trazer alguns sabores e combinações que não fazem parte do repertório do típico almoço meio italiano/meio gaúcho.
Não porque não gosto dessa comida, muito pelo contrário, mas cozinho coisas novas quase como uma forma de agradecimento a minha família, como para mostrar os ingredientes de uma maneira diferente, um novo olhar para algo que está sempre lá.
“Foi o que fiz neste almoço de dia dos pais, em um dia frio e cinza, ótimo para ficar ao redeor do fogão a lenha e da família.”
Temos a sorte de um dos meus tios ser, além de engenheiro mecânico, um agricultor de mão cheia e de dedo verde, por isso toda a família tem o privilégio de ter legumes, verduras e frutas de lá quase o ano todo, tudo orgânico de verdade, puros e cheios de sabor.
Além de cozinhar, gosto também de fotografar o que acontece por lá: as frutas no pé, as mãos colhendo na horta, as chamas do fogão a lenha. Registro os ingredientes em todas as etapas, do cultivo à mesa.
Como os frutos laranjas e amarelos dos cítricos no meio das folhas verdes sob a luz do dia nublado e, logo depois, os mesmos limões e laranjas dourados e queimados na assadeira do frango assado.
“Este almoço foi especialmente feito e pensado para meu pai.”
Muito da minha relação com a alimentação vem de coisas que aprendi com ele, que sempre ensinou para mim e para os meus irmãos a importância da comida de verdade, não industrializada, de ter uma alimentação balanceada, mas sem se privar de alguns prazeres da comida.
Ele também sempre nos ensinou que não podemos desperdiçar nada, porque a natureza teve um trabalho enorme para produzir cada pequena coisa. Lembro direitinho dele falar para a gente ainda pequeno: ‘vocês sabem quantas viagens uma abelha tem que fazer para produzir uma gota de mel?’.
Ensinava a sempre lamber a colher antes de lavá-la, ou jogar chá quente dentro do pote de mel quase vazio. Até hoje não consigo colocar uma colher suja de mel na pia sem antes lamber o que restou.
Aproveitei para este almoço tudo que estava na época ou que já tinha sido colhido, e tudo por inteiro. Como estamos no inverno, época dos cítricos, eles foram os que mais apareceram. Além das laranjas, bergamotas (que é como chamamos as tangerinas), limões-bergamota (ou limão cravo) e laranjinhas kinkan, todos bastante comuns por lá, vi pela primeira vez o pequeno pé de limão siciliano carregado.
Ainda contei com abóboras, alfaces, radicchios, raiz forte, ervas de todos os tipos, kiwis, pimentas, mel e ovos caipiras do recém-inaugurado galinheiro.
“Usei um pouco de tudo, mais umas poucas coisas que trouxe da cidade, e assim foi o nosso almoço, frio lá fora, quente aqui dentro.”
As receitas que escolhi para este almoço foram: Frango Assado com Ervas, Laranja e Limão Siciliano; Abóbora com Molho de Iogurte; Quinoa com Radicchio e Sementes de Abóbora. De sobremesa: Calda de Laranjinhas Kinkan e Mel.